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sábado, 13 de outubro de 2007

PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANNE FRANK

A seguir apresentamos o Projeto Ambiental desenvolvido pela Escola Municipal Anne Frank, apresentado pela Sandra Mara.

É muito interessante e pode contribuir para outras iniciativas!!!

PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ANNE FRANK


A Escola Municipal Anne Frank situa-se no bairro Confisco, região da
Bacia Pampulha, cidade de Belo Horizonte-MG. Localiza-se em uma área
limítrofe entre os municípios de Belo Horizonte e Contagem, sendo que
a maioria dos nossos alunos moram em Contagem. Muitas são as
conseqüências de se "viver no limite": o posto de saúde mais próximo
não atende aos moradores de Contagem; o Conselho Tutelar restringe o
seu atendimento à uma área de jurisdição, seguindo um mapa que
delimita as ruas de abrangência no município de Belo Horizonte,
acontecendo o mesmo com todos os programas de atendimento à criança e
ao adolescente.

A escola e a comunidade não conhecem e não têm acesso aos programas de
atendimento da Prefeitura de Contagem, apesar de todos os esforços no
sentido de estabelecer uma parceria com este município. Mas ações
continuam sendo pensadas e firmadas neste sentido, inclusive com o
apoio de órgãos gestores da PBH, principalmente da Secretaria Adjunta
Municipal Regional Pampulha. Somente o Conselho Tutelar de Contagem
mantém interlocução com a escola, porém, o mesmo tem poucas
possibilidades de encaminhamento aos atendimentos necessários.

Muitas crianças e adolescentes vivem em situação de risco social 1 .
Freqüentemente crianças de seis anos de idade chegam à escola com a
chave de casa, pois quando retornam não tem a presença de um adulto.
As famílias, na sua maioria, são chefiadas por mulheres trabalhadoras
que não têm como acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhos. Em
muitos casos os irmãos mais velhos cuidam dos mais novos enquanto as
mães saem para trabalhar e, quando chegam à adolescência têm poucas
perspectivas de emprego. De modo geral, as meninas, quando conseguem
emprego, trabalham em casa de família, e os meninos, através de
trabalhos informais, vivem de "bicos", atuando como ajudante de
pedreiro, ambulantes, etc.

Esta realidade porém, não paralisa moradores e moradoras que, ao
contrário, têm uma história de lutas e conquistas no campo social. O
bairro recebeu o nome de Confisco devido a suas terras terem sido
confiscadas e doadas a famílias que, na década de 80, se encontravam
acampadas em barracas de lona no entorno da igreja São José.
Posteriormente, outras famílias advindas do município de Contagem
vieram para a mesma região. Conquistaram, então, suas moradias e,
através da mobilização coletiva, receberam também a construção de um
posto de saúde e da escola. Posteriormente, conquistaram a construção
do Parque Dr. Cezar Rodrigues Campos, numa área, nomeada pela
comunidade de "buracão", que antes era utilizada para despejo de lixo
e onde hoje se encontra uma nascente.

A Escola M. Anne Frank cresceu e desenvolveu-se junto com o bairro.
Sua história é marcada desde a sua fundação pela preocupação com a
comunidade e seus alunos. Assim, seu Projeto Político Pedagógico é
pautado em ações que atendam às necessidades dos mesmos, direcionando
seu trabalho para a construção de uma escola pública de qualidade para
todos.

A opção de se trabalhar com o projeto de Educação Ambiental, portanto,
vem de um compromisso ético, político e histórico do coletivo de nossa
escola na construção de uma consciência global das questões relativas
ao meio, para que se possa assumir posições afinadas com os valores
referentes à sua proteção e valorização. Dessa forma, o objetivo desse
trabalho é sensibilizar os alunos e a comunidade para que assumam
posturas de preservação e respeito em relação ao meio em que vive.

Assumiu-se, então, o desafio de sensibilizar a comunidade para não
jogar lixo próximo aos córregos, preservar o parque Dr. Cézar
Rodrigues Campos e sua a nascente, que deságua na Lagoa da Pampulha.
Assim, partindo da realidade local, busca-se levar toda a comunidade
escolar a reconhecer a importância e necessidade de se cuidar de todas
as águas e ecossistema do planeta. À princípio esse trabalho foi
desenvolvido tendo como foco a poluição do solo, do lixo, realizando
atividades sobre a reciclagem e coleta seletiva. Posteriormente, foi
incorporado ao trabalho a gestão das águas por bacias hidrográficas,
onde a escola adotou a nascente do Confisco.

Essas atividades são desenvolvidos tendo como referência a "ética do
cuidado" trabalhando-se valores e atitudes comprometidos com o bem
estar de cada um e da comunidade. Outro princípio adotado pela escola
para se trabalhar as questões sócio-ambientais é o da ecologia
integral. Ele se baseia em três abordagens: o cuidado consigo, as
relações com o outro e as relações com o meio. Desta forma, discutir o
cuidado com o meio ambiente é discutir o cuidado com o nosso corpo,
com o outro, com nossa casa, escola, comunidade e com o futuro do
planeta.

A metodologia para o desenvolvimento da proposta são os projetos
desenvolvidos pelos professores com os alunos e comunidade, o trabalho
de mobilização com esses atores, realização de pesquisas para levantar
atividades e informações sócio-ambientais e a formação dos docentes e
funcionários através dos parceiros da escola. Isso se movimenta na
direção para a realização das atividades sócio-ambientais.

A escola, então, sentiu a necessidade de sistematizar suas ações e
realizou no ano de 2006, o primeiro Seminário de Educação Ambiental
com o tema "Educação Ambiental Urbana". À partir de então a escola
assumiu esse tema como parte integrante de sua organização curricular.
A coordenação pedagógica reuni-se com os professores e juntos
estabelecem o tema sócio-ambiental que cada ciclo irá trabalhar. As
seguintes ações foram desenvolvidas durante o ano de 2006:


*

o fortalecimento do Conselho Ambiental com a participação de
representantes de todos os seguimentos da comunidade educativa,
promovendo discussões pertinentes às questões sócio-ambientais da
escola e do bairro;
*

aproximação da escola a entidades e ONG'S que preocupam-se com a
gestão de águas por bacia hidrográfica, firmando parcerias;
*

aprimoramento do trabalho de coleta seletiva;
*

trabalho de pertencimento de bacia hidrográfica (conhecer para preservar)
*

formação com os funcionários da escola para evitar o desperdício
de água e energia;
*

plantio de árvores no Parque Dr. César Rodrigues Campos;
*

mobilização da comunidade para preservação da nascente;
*

sensibilização dos professores para o desenvolvimento de
projetos pedagógicos interdisciplinares ligados às questões
ambientais;
*

realização com os alunos de visitas técnico-educacionais, de
acordo com o ano do ciclo e idade dos alunos: Aterro Sanitário,
Parques Ecológicos, cidade de Paraty, Diamantina, Parque do Caraça,
Ouro Preto, Serra do Cipó, São João D'El Rei, Brasília, Tiradentes;
*

realização de oficinas sócio-ambientais, tais como: construção
de instrumentos musicais com materiais alternativos, grafitismo,
oficina de bio-indicadores de qualidade de água e reciclagem.

Nas áreas de estudo são desenvolvidos conteúdos que formem no aluno as
seguintes habilidades: compreender o que é bacia hidrográfica,
conhecer as bacias hidrográficas brasileiras especialmente as da
Pampulha, Velhas e São Francisco, nas quais escola e comunidade estão
inseridas, utilizar a água de maneira consciente, propor medidas que
combatam o desperdício de recursos naturais, participar de campanhas
em defesa da hidrografia local (Nascente do Confisco, Lagoa da
Pampulha e Rio das Velhas), compreender o que é coleta seletiva e
valorizar o meio em que vive.

A escola conta com o apoio de vários parceiros que viabilizam diversas
atividades práticas como enriquecimento aos trabalhos desenvolvidos em
sala de aula (visitas técnico-educacionais e oficinas citadas acima).
Algumas atividades envolvem toda a comunidade, buscando levar as
informações para além dos alunos e, ao mesmo tempo, possibilitar a
estes um espaço para repassar a toda população os conhecimentos
adquiridos, tais como: distribuição de cartilha, limpeza da nascente e
posterior separação e pesagem do lixo retirado, concurso para escolha
do nome da nascente, apresentação de teatro envolvendo o tema,
passeata e abraço à nascente. Realizamos também uma atividade na praça
do bairro, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, com
oficinas e apresentações artísticas.

Como é um projeto coletivo, a escola procura articular os vários
segmentos para que cada um na seu papel cumpra as funções para que o
projeto possa se concretizar. A coordenação pedagógica funciona como
um núcleo gestor do projeto e é composta por representantes da
direção, coordenação pedagógica e professores dos três turnos que
mensalmente se reúnem para discutir e organizar as ações. Os
professores têm como objetivo instrumentalizar e sustentar as
experiências, intermediando informações e conscientizando os alunos. O
aluno, por sua vez, irá formar novos conceitos, construindo novas
atitudes de respeito e valores, tornando-se um multiplicador para
atuar em sua realidade.

A avaliação do projeto foi realizada no Segundo Seminário de Educação
Ambiental, no mês de junho de 2007. Os professores apresentaram para a
comunidade e colegas os trabalhos desenvolvidos neste período,
merecendo destaque o trabalho de pertencimento de bacia hidrográfica
(2º e 3º ciclos) e coleta seletiva (1º ciclo). A comunidade apresentou
um projeto de cooperativa de reciclagem que está implantando no
bairro, baseadas nas reflexões que realizou junto à escola. Nesse
evento, a escola também obteve seu trabalho reconhecido ao conquistar
oficialmente o nome da nascente do Parque Dr. Cezar Rodrigues
"Nascente do Confisco – Nascente da Paz" e seu símbolo, através do
Projeto de Lei nº 16.655 de 05/01/2007.

A avaliação ocorre durante todo o processo, averiguando se os
objetivos propostos, sejam eles conceituais, atitudinais e
procedimentais, estão sendo realizados. Avaliou-se que as ações da
escola têm mudado o olhar da comunidade para a questão ambiental,
principalmente, para a preservação da nascente do Confisco e Lagoa da
Pampulha. A comunidade mostra-se motivada e reconhece a importância da
preservação dos recursos naturais para o futuro do planeta. Porém,
consideramos que este é um trabalho que precisa ser permanente e
aperfeiçoado a cada dia.

Acredita-se que a educação ambiental propõe tratar das questões
relativas ao ambiente onde está inserida a Escola assim como em seu
entorno . Envolve o trabalho e a busca de soluções para os problemas
sociais da comunidade e da Bacia da Pampulha. Através dos princípios
da "ética do cuidado" e da ecologia integral, trabalha-se a formação
de atitudes, valores, o desenvolvimento de habilidades e procedimentos
que permitam aos alunos uma atuação efetiva e um comprometimento com a
vida e o bem estar de cada um e da comunidade.




1 Faz-se importante aqui, ilustrar esse "risco social". O nível
socioeconômico (NSE) da escola Anne Frank é avaliado em 1,45,
considerando que a escala de NSE tem variáveis de 1 a 5, e ordem
crescente, ou seja, quanto mais próximo do 1, pior o NSE dos alunos.


--
Sandra Mara

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